sexta-feira, 19 de julho de 2013

«Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos» (1 Jo 3, 14)

Num momento de graves dificuldades, João escreve às comunidades que ele tinha fundado. Na verdade, começavam a infiltrar-se heresias e falsas doutrinas em matéria de fé e de moral. Notava-se também o ambiente pagão, duro e hostil para com o espírito do Evangelho. E era neste ambiente que os cristãos tinham que viver.
Para os ajudar, o apóstolo indica-lhes o remédio radical: amar os irmãos, viver o mandamento do amor que, desde o início, tinham recebido e no qual ele vê resumidos todos os mandamentos.
Se assim fizerem, saberão o que é “a vida”, isto é, serão cada vez mais introduzidos na união com Deus, farão a experiência de Deus-Amor. E, fazendo esta experiência, serão confirmados na fé e poderão fazer frente a todos os ataques, principalmente em tempo de crise.
«Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos».
«Nós sabemos…». O apóstolo faz referência a um conhecimento que vem da experiência. É como se dissesse: nós experimentámo-lo, tocámos diretamente. Era a experiência que os cristãos que ele evangelizou tinham feito no início da sua conversão: quando se põem em prática os mandamentos de Deus, e de modo especial o mandamento do amor para com os irmãos, entra-se na própria vida de Deus.
Mas, será que os cristãos de hoje conhecem esta experiência? Saberão, sem dúvida, que os mandamentos do Senhor se destinam a ser postos em prática. Jesus insiste continuamente que não basta escutar, é necessário pôr em prática a Palavra de Deus (cf. Mt 5, 19; 7, 21; 7, 26).
O que já não será tão evidente, para a maioria – ou porque o desconhece, ou porque o conhecimento que dele tem é puramente teórico, pois não o experimentou na prática –, é este maravilhoso aspeto da vida cristã que o apóstolo põe em relevo, isto é, que, quando vivemos o mandamento do amor, Deus toma posse de nós. E, um sinal inconfundível disto, é aquela vida, aquela paz, aquela alegria que Ele nos faz saborear já nesta Terra. Então tudo se ilumina, tudo se torna harmonioso. Deixa de existir separação entre a fé e a vida. A fé torna-se aquela força que impregna e une entre si todas as nossas ações.
«Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos».
Esta Palavra de Vida diz-nos que o amor ao próximo é a via mestra que nos leva a Deus. Dado que todos nós somos seus filhos, não há nada que Ele deseje tanto como o amor aos irmãos. Não podemos dar-Lhe maior alegria do que quando amamos os nossos irmãos. E, porque nos traz a união com Deus, o amor fraterno é uma fonte inesgotável de luz interior, é fonte de vida, de fecundidade espiritual, de renovação contínua. Impede que no povo cristão se formem gangrenas, escleroses e águas estagnadas. Numa palavra, “faz-nos passar da morte para a vida”. Pelo contrário, quando falta a caridade, tudo murcha e morre. E compreendem-se então certos sintomas tão difundidos no mundo em que vivemos: a falta de entusiasmo, de ideais, a mediocridade, o tédio, o desejo de evasão, a perda de valores, etc.
«Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos».
Os irmãos de quem o apóstolo fala são, sobretudo, os membros das comunidades de que fazemos parte. Se é verdade que devemos amar todas as pessoas, é também verdade que este nosso amor deve começar por aqueles que habitualmente vivem connosco, para depois se estender a toda a humanidade. Devemos, pois, pensar antes de mais nos nossos familiares, nos colegas de trabalho, nos membros da paróquia, da associação ou comunidade religiosa a que pertencemos. O amor aos irmãos não seria autêntico e bem ordenado se não partisse daqui. Onde quer que estejamos, somos chamados a construir a família dos filhos de Deus.
«Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos».
Esta Palavra de Vida abre-nos perspetivas imensas. Impele-nos para a divina aventura do amor cristão, cujos horizontes são imprevisíveis. Antes de mais, recorda-nos que a resposta a dar ao nosso mundo – um mundo onde se elaboram teorias sobre a luta, a lei do mais forte, do mais astuto, de quem não tem preconceitos; onde, por vezes, o materialismo e o egoísmo parecem paralisar tudo – é o amor ao próximo. É este o remédio que o pode curar. Na verdade, quando vivemos o mandamento do amor, não só se tonifica a nossa vida, mas tudo à nossa volta sente os efeitos disso. É como uma onda de calor divino que se irradia e propaga, penetrando nos tecidos humanos, facilitando o relacionamento entre as pessoas e entre os grupos e transformando pouco a pouco a sociedade inteira.
Decidamo-nos, então. Não nos faltam irmãos para amar em nome de Jesus, temo-los sempre. Sejamos fiéis a este amor. Ajudemos muitos outros a sê-lo. Experimentaremos na nossa alma o que significa união com Deus. A fé reavivar-se-á, as dúvidas desaparecerão. Deixaremos de saber o que é o aborrecimento. A nossa vida ficará cheia, totalmente preenchida.
Chiara Lubich

o que sabemos sobre espiritualidade li e achei enteresante para nós como seres humanos tentar entender o que acontece conosco

A tragédia de Santa Maria me leva a algumas reflexões que considero importantes para o movimento espírita.
Recentemente participei de uma banca de doutorado na Universidade Metodista, em que o pesquisador José Carlos Rodrigues, examinou em ampla investigação de campo quais os principais motivos de “conversão”, eu diria, “migração” para o espiritismo, no Brasil. Ganhou disparado a “resposta racional” que a doutrina oferece para os problemas existenciais.
De fato, essa é grande novidade do espiritismo no domínio da espiritualidade: introduzir um parâmetro de racionalidade e distanciar-se dos mistérios insondáveis, que as religiões sempre mantiveram intactos e impenetráveis, sobretudo o mistério da morte.
Entretanto, essa racionalidade, que era realmente a proposta de Kardec, tem sido barateada em nosso meio, como tudo o mais, para tornar-se uma cartilha de respostinhas simples, fechadas e dogmáticas, que os adeptos retiram das mangas sempre que necessário, de maneira triunfante e apressada, muitas vezes, sem respeito pela dor do próximo e sem respeito pelas convicções do outro. Explico-me.
Por exemplo: existe na Filosofia espírita uma leitura de mundo de “causa e efeito”, que traduziram como “lei do karma”, conceito que vem do hinduísmo. Essa ideia é de que nossas ações presentes geram resultados, que colheremos mais adiante ou que nossas dores presentes podem ser explicadas à luz de nossas ações passadas. Mas há muitas variáveis nesse processo: por exemplo, estamos sempre agindo e portanto, sempre temos o poder de modificar efeitos do passado; as dores nem sempre são efeitos do passado, mas sempre são motivos de aprendizado. O sofrimento no mundo resulta das mais variadas causas: má organização social, egoísmo humano, imprevidência… Estamos num mundo de precário grau evolutivo, onde a dor é nossa mestra, companheira e o que muitas vezes entendemos como “punição” é aprendizado de evolução.
O assunto é complexo e pretendo escrever mais profundamente sobre isso. Aqui, apenas gostaria de afirmar que nós espíritas, temos sim algumas respostas racionais, mas elas são genéricas e não podem servir como camisas de força para toda a realidade. Que respostas baseadas em evidências e pesquisas temos, por exemplo, para essas famílias enlutadas com a tragédia de Santa Maria?
• que a morte não existe e que esses jovens continuam a viver e que poderão mais dia, menos dia, dar notícias de suas condições;
• que a morte traumática deixa marcas para quem fica e para quem foi e que todos precisam de amparo e oração;
• que o sofrimento deve ter algum significado existencial, que cada um precisa descobrir e transformá-lo em motivo de ascensão…
• que a fé, o contato com a Espiritualidade, seja ela qual for, dá forças ao indivíduo, para superar um trauma dessa magnitude.

Não podemos afirmar por que esses jovens morreram. Não devemos oferecer uma explicação pronta, acabada, porque não temos esses dados. Os espíritas devem se conformar com essa impotência momentânea: não alcançamos todas as variáveis de um fato como esse, para podermos oferecer uma explicação definitiva. Havia processos da lei de causa e efeito? Provavelmente sim. Houve falha humana, na segurança? Certamente sim. Qual o significado que essa tragédia terá? Cada pai, cada mãe, cada familiar, cada pessoa envolvida deverá achar o seu significado. Alguns talvez terão notícias de algum evento passado que terá desembocado nesse drama; outros extrairão dessa dor, um motivo de luta para mais segurança em locais de lazer; outros acharão novos valores e farão de seu sofrimento uma bandeira para ajudar outros que estejam no mesmo sofrimento e assim por diante.
Oremos por essas pessoas, ofereçamos nossas melhores vibrações para os que foram e para os que ficaram e ainda para os que se fizeram de alguma forma responsáveis por esse evento trágico. Mas tenhamos delicadeza ao tratar da dor do próximo! Não ofereçamos respostas fechadas, apressadas, categóricas, deterministas. Ofereçamos amor, respeito e àqueles que quiserem, um estudo aberto e não dogmático, da filosofia espírita.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

VILCO FAMILIAR

Afeição real de alma a alma, a única que sobrevive à destruição do corpo, porque os seres que não se unem neste mundo senão pelos sentidos não têm nenhum motivo para se procurarem no mundo dos Espíritos. Não há de duráveis senão as afeições espirituais…” (Cap.IV, item 18.)
A rigor, família é uma instituição social que compreende indivíduos ligados entre si por laços consangüíneos.
A formação do grupo familiar tem como finalidade a educação, implicando, porém, outros tantos fatores como amor, atenção, compreensão, coerência e, sobretudo, respeito à individualidade de cada componente do instituto doméstico.
Com o Espiritismo, porém, esse conceito de família se alarga, porque os velhos padrões patriarcais, impositivos e machistas do passado, cedem lugar a um clã familiar de visão mais ampla de vivência coletiva, dentro das bases da reencarnação. Por admitir que os laços da parentela são preexistentes à jornada atual, os preconceitos de cor, de sangue, sociais e afetivos caem por terra, em face da possibilidade de as almas retornarem ao mesmo domicílio,ocupando roupagens físicas conforme as necessidades evolutivas.
As afeições reais do espírito sobrevivem à destruição do corpo e permanecem indissolúveis e eternas, nutrindo-se cada vez mais de mútuas afinidades, enquanto que as atrações materiais, cujo único objetivo são as ilusões passageiras e os interesses do orgulho, extinguem-se com a “causa que os fez nascer”.
Assim, vemos famílias que adotam a “eliminação quase total da vida particular”. A atenção é focalizada de forma exclusiva no grupo familiar, cujos integrantes vivem neuroticamente uns para os outros. Bloqueiam seus direitos à própria vida, à liberdade de agir e de pensar e ao processo de desenvolvimento espiritual, para se ocuparem de cuidados improdutivos e alienatórios entre si. Vivem uns para os outros numa “simbiose doentia”.
Os elementos que vivem presos a esse relacionamento de permuta egoísta afirmam para si mesmos: “Se eu me sacrifico pelo outro, exijo que ele se dedique a mim”. Não se trata de caridade, e sim de compromissos impostos entre dois ou mais indivíduos de juntos viverem, visando ao “bem-estar-familiar”. Na verdade, não estão exercitando o discernimento necessário para enxergar a autêntica satisfação de cada um como pessoa.
Não nos referimos aqui ao companheirismo afetivo, tão reconfortante e vital à família, mas a uma postura obrigatória pela qual indivíduos se vigiam e se encarceram reciprocamente.
Encontramos também outras famílias que não se formaram por afeições sinceras; fazem comparações e observam características de outras famílias que invejam e que buscam copiar a qualquer custo: são as chamadas “alpinistas sociais”.
Procuraram formar o lar afeiçoadas a modelos de elegância e a peculiaridades obstinadas de afetação social, moldando o recinto doméstico ao que eles idealizam a seu bel-prazer como “chique”.
Vestem-se à imagem dos outros, comparam carros, móveis, gostos e comidas; negam a cada membro, de forma nociva, a verdadeira vocação, tentando sempre copiar modos de viver que não condizem com suas reais motivações.
Assim considerando, os laços de família formados em bases de fidelidade, amor, respeito e dedicação perdurarão pela Eternidade e serão cada vez mais fortalecidos. Os espíritos simpáticos envolvidos nessas uniões usufruem indizível felicidade por estar juntos trabalhando para o seu progresso espiritual. “Quanto às pessoas unidas pelo único móvel do interesse, elas não estão realmente em nada unidas uma à outra: a morte as separa sobre a Terra e no Céu”, conforme nos certifica literalmente o texto de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

O PENSA OS JOVENS SOBRE RELIGIÃO

O adolescente de hoje vive em um mundo dinâmico e veloz, onde as informações das mais variadas fontes são acessíveis a todos de forma rápida e a custo razoável. Por isso, diante de tantas publicações científicas, páginas na internet, produções literárias, revistas culturais, folhetins, textos e artigos filosóficos, ele vive em crise religiosa e se pergunta: crença ou descrença – o que é mais saudável? As novas gerações não aceitam ditadores da moral alheia, oradores inflexíveis e dirigentes fanáticos. Elas possuem uma visão de mundo, implícita na religião, que preconiza o respeito a si próprio e a seu semelhante; acreditam em Deus como uma força maravilhosa que controla tudo quanto existe ou possa existir; e não homens, ditos “santificados”, que dizem ser o cajado nas mãos de Deus para repreender e encaminhar os “pecadores” e “incrédulos”.
É mais fácil atribuir ao Pai a incoerência que acreditais existir nos mundos superiores e a desordem que inunda a Terra do que assumir vossas próprias imperfeições e voltar a trabalhar na centelha do amor e luz que a espiritualidade lhes pede. Pai, porque permites que eu passe por tanta dor e sofrimento?
Nem mesmo vossa ingratidão afasta de nós a proteção do Pai. Sempre zeloso e cheio de piedade, Ele compreende a ignorância que ainda reina entre vós e das vossas atitudes de desamor, não leva magoas ou qualquer triste sentimento, apenas compreende a necessidade de redobrar o vosso apoio espiritual e cada vez mais lhes estender as mãos.
Lembrem-se de que a vida é curta. Enquanto ela dura, esforça-se para adquirir o que veio procurar nesse mundo. Lute pelo espírito e pelo coração, corrija seus defeitos, adoce seu caráter, fortifique sua vontade. Acautele-se das armadilhas da carne. Reflita que a Terra é um campo de batalha, onde a matéria e os sentidos abandonam a alma num assalto perpétuo. Lembre-se de que tudo o que é material é efêmero. Mas há três coisas que vêm de Deus e são imutáveis como ele; três coisas que resplandecem acima do reflexo das glórias humanas. São elas…O instinto é independente da inteligência? Qual é a fonte da inteligência? Pode-se assinalar um limite entre o instinto e a inteligência, ou seja, perceber onde um acaba e a outra começa? É exato dizer que os dons instintivos diminuem à medida que aumentam os intelectuais? Por que a razão não é sempre um guia infalível? A inteligência é um atributo do princípio vital? Podemos, então, dizer que cada ser tira uma porção de inteligência da fonte universal e a assimila, como tira e assimila o princípio da vida material?

quinta-feira, 4 de julho de 2013

VAMOS SABER MAIS SOBRE A VIDA DE A

Allan Kardec

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Allan Kardec
Allan Kardec, codificador e sistematizador da Doutrina Espírita
Nome completoHippolyte Léon Denizard Rivail
Conhecido(a) porCodificar, sistematizar e propagar a Doutrina Espírita; propagar o "Método pedagógico de Pestalozzi"
Nascimento3 de outubro de 1804
LyonRódano-Alpes
 França
Morte31 de março de 1869 (64 anos)
ParisIle-de-France
 França
OcupaçãoPedagogoprofessorescritor
AssinaturaAllanKardec Assin.png
Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon3 de outubro de 1804 — Paris31 de março de1869) foi educador, escritor e tradutor francês. Sob o pseudônimo de Allan Kardec,1notabilizou-se como o codificadornb 1 do espiritismo (neologismo por ele criado), também denominado de Doutrina Espírita.

Índice

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Resumo[editar]

O pseudônimo "Allan Kardec", segundo biografias, foi adotado pelo Prof. Rivail a fim de diferenciar a Codificação Espírita dos seus trabalhos pedagógicos anteriores. Segundo algumas fontes, o pseudônimo foi escolhido pois um espírito revelou-lhe que haviam vivido juntos entre os druídas, na Gália, e que então o Codificador se chamava "Allan Kardec".2
No 4º Congresso Mundial em Paris (2004), o médium brasileiro Divaldo Pereira Francopsicografou uma mensagem atribuída ao espírito de León Denis em francês (invertida) declarando que Allan Kardec fora a reencarnação de Jan Hus, um reformador religioso do século XV. Esta informação já foi dada em diversas fontes diferentes,3 4 5 6 o que está de acordo com o Controle Universal do Ensino dos Espíritos, que Kardec definiu da seguinte forma: "uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos - a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares."7

Biografia[editar]

A juventude e a atividade pedagógica[editar]


Allan Kardec e sua esposa Amélie Gabrielle Boudet.
Nascido numa antiga família de orientação católica com tradição na magistratura e naadvocacia, desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da filosofia.
Fez os seus estudos na Escola de Pestalozzi, no Castelo de Zahringenem, em Yverdon-les-Bains, na Suíça (país protestante), tornando-se um dos seus mais distintos discípulos e ativo propagador de seu método, que tão grande influência teve na reforma do ensino na França e naAlemanha. Aos quatorze anos de idade já ensinava aos seus colegas menos adiantados, criando cursos gratuitos para os mesmos. Aos dezoito, bacharelou-se em Ciências e Letras.
Concluídos os seus estudos, o jovem Rivail retornou ao seu país natal. Profundo conhecedor dalíngua alemã, traduzia para este idioma diferentes obras de educação e de moral, com destaque para as obras de François Fénelon, pelas quais manifestava particular atração. Conhecia a fundo os idiomas francês, alemão, inglês e holandês, além de dominar perfeitamente os idiomas italiano e espanhol.
Era membro de diversas sociedades, entre as quais da Academia Real de Arras, que, em concurso promovido em 1831, premiou-lhe uma memória com o tema "Qual o sistema de estudos mais de harmonia com as necessidades da época?".8
6 de fevereiro de 1832 desposou Amélie Gabrielle Boudet. Em 1824, retornou a Paris e publicou um plano para aperfeiçoamento do ensino público. Após o ano de 1834, passou a lecionar, publicando diversas obras sobreeducação, e tornou-se membro da Real Academia de Ciências Naturais.9
Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de QuímicaFísicaAnatomia10 comparada, Astronomia e outros. Nesse período, preocupado com a didática, criou um engenhoso método de ensinar a contar e um quadro mnemônico da História de França, visando facilitar ao estudante memorizar as datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país.
As matérias que lecionou como pedagogo são: Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia Comparada e Francês.11

Das mesas girantes à Codificação[editar]

Conforme o seu próprio depoimento, publicado em Obras Póstumas, foi em 1854 que o Prof. Rivail ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das "mesas girantes", bastante difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Sem dar muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado magnetismo animal de que era estudioso, só em maio de 1855 sua curiosidade se voltou efetivamente para as mesas, quando começou a frequentar reuniões em que tais fenômenos se produziam.
Durante este período, também tomou conhecimento do fenômeno da escrita mediúnica - ou psicografia, e assim passou a se comunicar com os espíritos. Um desses espíritos, conhecido como um "espírito familiar", passa a orientar os seus trabalhos. Mais tarde, este espírito iria lhe informar que já o conhecia no tempo das Gálias, com o nome de Allan Kardec. Assim, Rivail passa a adotar este pseudônimo, sob o qual publicou as obras que sintetizam as leis da Doutrina Espírita.9
Convencendo-se de que o movimento e as respostas complexas das mesas deviam-se à intervenção de espíritos, Kardec dedicou-se à estruturação de uma proposta de compreensão da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos científico, filosófico e moral, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar que não negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção do conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do Homem.
Tendo iniciado a publicação das obras da Codificação em 18 de abril de 1857, quando veio à luz O Livro dos Espíritos, considerado como o marco de fundação do Espiritismo, após o lançamento da Revista Espírita (1 de janeiro de 1858), fundou, nesse mesmo ano, a primeira sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

Os últimos anos[editar]


Túmulo de Allan Kardec em Paris.
Kardec passou os anos finais da sua vida dedicado à divulgação do Espiritismo entre os diversos simpatizantes, e defendê-lo dos opositores através da Revista Espírita Ou Jornal de Estudos Psicológicos. Faleceu em Paris, a 31 de março de 1869, aos 64 anos de idade,12 em decorrência da ruptura de um aneurisma, quando trabalhava numa obra sobre as relações entre o Magnetismo e o Espiritismo, ao mesmo tempo em que se preparava para uma mudança de local de trabalho. Está sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, uma célebre necrópole da capital francesa. Junto ao túmulo, erguido como os dólmens druídicos. Acima de sua tumba, seu lema: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei", em francês.
Em seu sepultamento, seu amigo, o astrônomo francês Camille Flammarion proferiu o seguinte discurso, ressaltando a sua admiração por aquele que ali baixava ao túmulo:13
Voltaste a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra… Sabemos que todos havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo desenvolvimento aTerra é teatro por demais acanhado. (…) Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista!
—Camille Flammarion
Sobre Kardec, Gabriel Delanne escreveu:14
Substituindo a fé cega numa vida futura, pela inquebrantável certeza, resultante de constatações científicas, tal é o inestimável serviço prestado por Allan Kardec à humanidade.
—Gabriel Delanne

Obras[editar]

Obras didáticas[editar]


Página de seu livro "Plano Proposto Para a Melhoria da Instrução Pública" (1828).
O professor Rivail escreveu diversos livros pedagógicos, dentre os quais destacam-se:15
  • 1824 - Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, para uso dos professores e mães de família, com modificações - 2 tomos
  • 1828 - Plano Proposto Para a Melhoria da Instrução Pública (coroado pela Academia Real de Arras)
  • 1831 - Gramática Francesa Clássica
  • 1831 - Qual o sistema de estudo mais consentâneo com as necessidades da época?.
  • 1846 - Manual dos exames para os títulos de capacidade: soluções racionais de questões e problemas de Aritmética e de Geometria
  • 1848 - Catecismo gramatical da Língua Francesa
  • 1849 - Programa dos Cursos ordinários de QuímicaFísicaAstronomiaFisiologia
  • 1849 - Ditados normais dos exames da Municipalidade e da Sorbona
  • 1849 - Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas

Diplomas obtidos[editar]

Lista dos principais diplomas obtidos por Denizard Rivail durante a sua carreira de professor e diretor de colégio:11
  • Diploma de fundador da Sociedade de Previdência dos Diretores de Colégios e Internatos de Paris - 1829
  • Diploma da Sociedade para a Instrução Elementar - 1847. Secretário geral: H. Carnot.
  • Diploma do Instituto de Línguas, fundado em 1837. Presidente: Conde Le Peletier-Jaunay.
  • Diploma da Sociedade de Educação Nacional, constituída pelos diretores de Colégios e de Internatos da França - 1835. Presidente: Geoffroy de Saint-Hilaire.
  • Diploma da Sociedade Gramatical, fundada em Paris em 1807, por Urbain Domergue - 1829.
  • Diploma da Sociedade de Emulação e de Agricultura do Departamento do Ain - 1828 (Rivail fora designado para expor e apresentar em França o método de Pestalozzi).
  • Diploma do Instituto Histórico, fundado em 24 de Dezembro de 1833 e organizado a 6 de Abril de 1834. Presidente: Michaud, membro da academia francesa.
  • Diploma da Sociedade Francesa de Estatística Universal, fundada em Paris, em 22 de Novembro de 1820, por César Moreau.
  • Diploma da Sociedade de Incentivo à Indústria Nacional, fundada por Jomard, membro do Instituto.
  • Medalha de ouro, 1º prêmio, conferida pela Sociedade Real de Arrás, no concurso realizado em 1831, sobre educação e ensino.

Contracapa da versão de 1860 d'O Livro dos Espíritos, a principal obra publicada por Kardec.

Obras espíritas[editar]

As cinco obras fundamentais que versam sobre o Espiritismo, sob o pseudônimo Allan Kardec, são:
Além delas, como Kardec, publicou mais cinco obras complementares:
Após o seu falecimento, viria à luz:
Outras obras menos conhecidas foram também publicadas no Brasil:

Citações[editar]


Busto de Allan Kardec em Lyon.

Selo do Correio Brasileiro em homenagem ao centenário de seu falecimento (1969).
  • "A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação."16
  • "Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas."17
  • "(…) o Espiritismo, restituindo ao Espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais o orgulho fundou castas e os estúpidos preconceitos de cor. O Espiritismo, alargando o círculo da família pela pluralidade das existências, estabelece entre os homens uma fraternidade mais racional do que aquela que não tem por base senão os frágeis laços da matéria, porque esses laços são perecíveis, ao passo que os do Espírito são eternos. Esses laços, uma vez bem compreendidos, influirão pela força das coisas, sobre as relações sociais, e mais tarde sobre a Legislação social, que tomará por base as leis imutáveis do amor e da caridade; então ver-se-á desaparecerem essa anomalias que chocam os homens de bom senso, como as leis da Idade Média chocam os homens de hoje…"18

Notas[editar]

  1.  Diz-se codificador pois o seu trabalho foi o de reunir, compilar e sistematizar textos recebidos por diversos médiuns naquela época

Referências

  1.  PENSE - Allan Kardec. Viasantos.com.
  2.  Esboço biográfico e curiosidades. Espirito.org.br.
  3.  Mensagem através da psicografia da médium Ermance Dufaux (uma das médiuns de Kardec) em 1857. Esta mensagem foi encontrada na livraria Leymarie, na França, porCanuto de Abreu. Esta informação consta no livro A missão de Allan Kardec, de Carlos Imbassahy
  4.  Holocausto Pela Verdade, palestra de Divaldo Pereira Franco (em DVD)
  5.  Os Luminares Tchecos", obra da médium Wera Krijanowskaia, pelo espírito de J.W. Rochester
  6.  João Huss na História do Espiritismo, artigo de Wallace Leal V. Rodrigues, publicado no Anuário Espírita de 1973 (órgão do Instituto de Difusão Espírita (IDE), Ano X, N º 10, Araras, SP, pág. 75 –85)
  7.  Allan Kardec. Revista Espírita - Abril de 1864 e em O Evangelho segundo o Espiritismo, introdução, item II
  8.  Textos - Allan Kardec. Espirito.org.br.
  9. ↑ a b Encyclopædia Britannica, 1997. Vol.8. p.390
  10.  Algumas fontes não confirmadas dizem que Allan Kardec teria sido médico. Pesquisas posteriores, no entanto demonstraram que ele foi professor de Anatomia. Retirado do rodapé desta página da FEB: [1]
  11. ↑ a b SOARES, p. 13
  12.  Dados pessoais. Feal.com.br.
  13.  KARDEC, Allan. Obras Póstumas (14ª edição). Rio de Janeiro: FEB, 1975. p. 30
  14.  Carta de Delanne publicada na Revista Espírita em 1907. Disponível em Autores Espíritas Clássicos. Gabriel Delanne - sua vida, seu apostolado e sua obra (.doc). Paul Bodier e Henri Regnault. Página visitada em 03/04/2010. Ver em HTML.
  15.  SOARES, p. 14
  16.  O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap. 2
  17.  A Gênese, Capítulo I, item 14
  18.  Revista Espírita 1861, pág. 297-298

Bibliografia[editar]

  • ABREU FILHO, Júlio. Biografia de Allan Kardec. in: O Principiante Espírita. São Paulo: O Pensamento, 1956. p. 7-30.
  • CARNEIRO, Victor RibasABC do Espiritismo (5ª edição). Curitiba (PR): Federação Espírita do Paraná, 1996. 223p. ISBN 85-7365-001-X p. 47-51.
  • INCONTRI, Dora. Para Entender Allan Kardec. São Paulo: Lachâtre, 2004.
  • INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita, um Projeto Brasileiro e suas Raízes. Bragança Paulista (SP): Comenius, 2004.
  • JORGE, José. Allan Kardec no pensamento de Léon Denis. Rio de Janeiro: Centro Espírita Léon Denis/Departamento Editorial, 1978. 48p.
  • GODOY, Paulo Alves; LUCENA, Antônio. Personagens do Espiritismo (2ª ed.). São Paulo: Edições FEESP, 1990.
  • RIZZINI, JorgeKardec, Irmãs Fox e Outros. Capivari (SP): Editora EME, 1994. 194p. ISBN 8573531517
  • SAUSSE, Henri. Biografia de Allan Kardec. in: O que é o espiritismo (38ª edição). Rio de Janeiro: FEB, 1997. ISBN 8573281138p. 9-48
  • SOARES, Sylvio BritoGrandes Vultos da Humanidade e o Espiritismo. 1ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1961.
  • WANTUIL, Zêus, THIESEN, Francisco. Allan Kardec – o Educador e o Codificador. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
  • GUÉNON, RenéL'Erreur Spirite (O Erro Espírita). Paris, 1923.
  • s.a.. Revista Espírita, maio de 1869. in: KARDEC, Allan. Obras Póstumas (14ª edição). Rio de Janeiro: FEB, 1975.

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